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Praa da S - Foto: Portal da Copa (Licena-cc-by-sa-3.0) |
Principais Praas Histricas de Salvador::Praa da S 4kw68
O Bairro da S o mais antigo e o mais central de Salvador, podendo-se dizer que est no corao da cidade. A praa surgiu em 1930, quando a Igreja da S e um quarteiro inteiro de casares dos sculos XVII e XIX, ocupados pelo comrcio, foram demolidos para implantao da linha de bonde eltrico. Na dcada de 50 foi implantado o terminal de nibus para vrios pontos da cidade. Em meados da dcada de 80 o terminal foi transferido para a Lapa e a praa ganhou um calado, o que contribuiu para diminuir o fluxo de pessoas na rea e, consequentemente, contribuir para a decadncia do comrcio local e do antigo centro da Cidade.
Com a restaurao e revitalizao do Centro Histrico, a partir de 1991, e o apelo dos comerciantes locais, o calado foi retirado e implantado um novo terminal de nibus para facilitar o o das pessoas ao maior e mais importante acervo arquitetnico religioso e civil do perodo colonial do Brasil.
A Antiga Igreja da S
A Igreja da S (S: nome consagrado principal igreja da cidade, na qual o arcebispo realiza suas missas) deu, ironicamente, o nome praa que surgiu com o seu desaparecimento.
O templo original tinha entrada pela Rua da Misericrdia, mudada tempos depois para o lado da montanha. A Igreja se ligava ao Palcio Arquiepiscopal por meio de um adio.
A S era uma igreja de propores bem amplas e sempre suas estruturas estavam a necessitar reparos pela proximidade com o abismo entre as cidades alta e baixa.
Em 1765, ela deixou de ser Catedral, cedendo a funo antiga Igreja do Colgio dos Jesutas, atual Catedral Baslica.
Desde o incio do sculo XX, vrios prefeitos e governadores realizaram obras de alargamento das ruas centrais da Cidade para adequ-las ao trnsito de bondes, automveis e nibus.
Na dcada de 10, foi construda a Avenida Sete de Setembro interligando antigas vias estreitas e sobre os escombros de vrias igrejas, prdios pblicos e casares seculares.
Finalmente, no dia 07 de agosto de 1933, foi demolida uma das mais belas construes religiosas do Brasil: a Igreja da S.
Segundo historiadores, as razes alegadas pelos idealizadores do projeto da praa, como o precrio estado de conservao da igreja, sua interferncia no progresso da Cidade ou porque atrapalhava a circulao dos bondes, no ariam de desculpas. Na verdade, dados e registros da poca informam que existiam interesses diferentes:
O do arcebispo que, no querendo mais residir no Palcio do Arquiepiscopal, situado ao lado da Igreja, teria 'entregue' a S em troca de um valorizado imvel no Campo Grande, que ou a ser a sua residncia oficial.
O do prefeito da poca que afirmava ser necessrio conduzir Salvador para uma nova era de desenvolvimento, retirando-a dos grilhes do ado, razes suficientes para que j houvessem sido destrudos outros monumentos histricos, como as igrejas de Nossa Senhora da Ajuda, de So Pedro, de Nossa Senhora do Rosrio e Nossa Senhora das Mercs.
Por muito pouco a Igreja de So Sebastio (do Mosteiro de So Bento) tambm no foi arrasada em nome do progresso.
Mesmo sob os protestos indignados de parte da comunidade, o processo de demolio da Igreja da S foi iniciado e rapidamente concludo. A inexistncia de uma conscincia e de rgos preservacionistas na poca, favoreceu a ao dos 'progressistas'. Mas a repercusso do ato foi to grande que contribuiu para a criao, em 1937, do Servio de Patrimnio Nacional.
O Palcio Arquiepiscopal
Em 1705 foi concedida uma licena a D. Sebastio Monteiro da Vide para a construo do palcio residencial do arcebispo, num terreno situado no Terreiro de Jesus. Mas, em 1707, esse terreno foi trocado por outro, situado ao lado da Igreja da S. De beleza arquitetnica notvel, o Palcio Arquiepiscopal, foi erguido em trs pavimentos e um subsolo em volta de um ptio. No segundo pavimento encontra-se o andar nobre e as janelas de ppito, com balces de ferro e forros em caixotes, caractersticos da primeira metade do sculo XVIII.
Tanto no primeiro, quanto no segundo pavimento existem galerias envidraadas as quais provavelmente teriam sido simples varandas.
A porta principal, de rara feitura, de mrmore portugus, sendo que na parte superior existe um braso com armas de D. Sebastio Monteiro da Vide, quando cnego. (cargo sacerdotal). Destaca-se tambm no Palcio, os retratos dos dois imperadores brasileiros, D. Pedro I e D. Pedro II, quando adolescentes, o de D. Maria Cristina, de vrios pontfices e arcebispos.
Monumento ao Bispo D. Pero Fernandes Sardinha
O primeiro bispo do Brasil, Dom Pero Fernandes Sardinha, nasceu em 1495, em Portugal e morreu em 1556, no litoral de Alagoas, quando a nau que o conduzia naufragou. Ele e os outros nufragos foram mortos e devorados pelos ndios Caets. Durante os quatro anos (de 1552 a 1556) em que ficou em Salvador, a Capital do Brasil, foram muitos os atritos entre ele e o padre Manoel da Nbrega, e tambm com o filho do segundo governador-geral D. lvaro da Costa.
Com a desapropriao da Igreja da S, ficou acertado entre a Diretoria de Obras da Prefeitura e o Arcebispado que seria colocado um monumento em homenagem ao primeiro bispo do Brasil, no lugar que assinalasse a exata posio do altar mor da igreja demolida. Esse monumento, inaugurado no dia 29 de junho de 1944, era constitudo de um busto feito em bronze, sobre um pedestal de cantaria (granito). O projeto foi aprovado pela Prefeitura em 12 de novembro de 1941 e sua execuo foi confiada ao escultor Bellando Bellandi e custou aos cofres pblicos a importncia de Cr$40.000 (quarenta mil cruzeiros)
Plano Inclinado Gonalves
Construdo em 1874, seu o se d, na cidade alta, pela pequena Praa Ramos de Queiroz e, na cidade baixa, pela Rua Francisco Gonalves. Possui duas cabines do tamanho de um bonde regular, cada uma com capacidade para transportar 36 ageiros. Autor: engenheiro Joo Ramos de Queiroz, que foi o responsvel pelo traado das linhas de bondes da Cidade. Inicialmente movido a vapor, pelo sistema biela e manivela, foi eletrificado em 10 de junho de 1910.
Prdio da Cia de Energia Eltrica da Bahia
Da 'cadia de sebo' trazida pelos homens de Thom de Souza para iluminar as primeiras noites da Cidade do Salvador at a moderna tecnologia de gerao e distribuio de energia eltrica, o caminho da energia na cidade tem sido longo e cheio de muitas e boas histrias. Daqueles primeiros artefatos rudimentares de cermica aos mais sofisticados feitos em lato, amos lmpada de leo de baleia. Os cetceos, to abundantes na costa e mesmo dentro da Baa de Todos os Santos, logo tiveram o seu azeite industrializado.
Os engenhos aram a trabalhar noite, dobrando a produo do acar, e exigindo mais e mais combustvel para a iluminao. O negcio do leo de baleia florescia e multiplicavam-se as 'armaes' de pesca: do Saraiva, do Carimbamba, de Itapu, de Manguinhos, etc. Destas casas de pesca, situadas na orla martima, ficaram os testemunhos da residncia do armador Manoel Incio da Cunha Menezes. Mais tarde essa casa foi adaptada para servir como sede do Aeroclube da Bahia, sendo depois demolida. E a 'casa de pedra', onde eram guardados os apetrechos e processado o leo para lmpadas e o espermacete para 'velas de libra' de uso privilegiado.
O leo foi iluminao exclusiva at 1848, quando surge a primeira proposta de utilizao do gs destilado do carvo de pedra. Chegvamos tarde, pois desde 1813, Paris j adotara o sistema e era, por isto, chamada a 'cidade luz'. Tudo porm ficou no projeto e s em 1 de junho de 1862 que Salvador teve sua iluminao iniciada companhia The Gas Company Ltd, com o seu gasmetro na rua do noviciado. Ao mesmo tempo desenvolvia-se a lmpada de acetileno, sobretudo nos bairros afastados e nas vilas e cidades do interior, difundida, principalmente, por ser a 'iluminao oficial' da malha ferroviria que se implantava.
O comeo do sculo XIX marca o incio da iluminao a querosene. A velha 'cadia' reeditada nas formas rudimentares dos 'fifs' e nas formas sofisticadas dos 'candeeiros belgas'. Com eles chegamos ao sculo XX e ao incio da energia eltrica aplicada iluminao. Chegamos aos tempos das disputas entre o grupo empresarial canadense Bond and Share e a associao de Guilherme Guinle com Cndido Gafre, que terminam por fundir os seus interesses na Companhia de Energia Eltrica da Bahia e na Companhia Linha Circular de Carris da Bahia, primeiro com a gerao termoeltrica da Usina da Preguia e, mais tarde, com o pioneiro represamento do Rio Paraguau, em Bananeiras.
O prdio da Circular, sede da The Bahia Tramway, Light & Power, da CEEB, da Companhia Telefnica, da COELBA um pedao vivo da histria de Salvador do final do sculo XIX aos nossos dias. Agora restaurado pela sua nova e definitiva proprietria, num esforo de preservao do patrimnio do Centro Histrico da Cidade e da sua integrao nas atividades da empresa ele testemunha do esprito empreendedor de homens do gabarito e renome como Ramos de Queiroz, Joaquim Gonalves, Antnio Lacerda, que foram introdutores dos bondes, dos planos inclinados, da energia eltrica e, mais tarde, dos transportes urbanos movidos a eletricidade.
Sede mais uma vez da primeira empresa de energia eltrica, responsvel pela eletrificao urbana e pela mudana e evoluo do parque industrial baiano, o prdio da COELBA destaca-se na paisagem da Praa da S, pela sua concepo e linhas. Ele conta sua histria de 100 anos em todos os seus detalhes, com todos os requintes de um projeto indito em sua poca. Ele, por exemplo, foi o primeiro a utilizar lajes de concreto armado e o pioneiro pela instalao de um elevador, hoje o mais antigo em funcionamento em Salvador, para uso exclusivo de seus clientes e funcionrios.
Integrado totalmente paisagem arquitetnica, o edifcio funde-se com a prpria histria da Bahia e puxa pela memria, evocando momentos de mudanas econmicas, polticas e sociais.
Uma nova Bahia surge e desfila sua porta, revelando sua importncia dentro do panorama nacional, e que assume posies de vanguarda empreendendo e incorporando desenvolvendo tecnologias. Sua histria relembra do namorico na sada do Plano Inclinado, bem ao seu lado, nos fundos da Catedral, do 'dedo' de conversa fiada na sua esquina, do movimento do 'quebra-bondes' nos idos de 1931 e dos 'yankees', apelido dos funcionrios da Tramway, Light & Power, dos filmes mudos do Cine Excelsior, do 'Mister Kilowatt', personagem da campanha publicitria da Companhia de Energia Eltrica da Bahia, que lutava para mudar o nome de uma empresa que uma Salvador inteira teimava em chamar de 'Circular'. Essa memria de Salvador est presente no edifcio da COELBA ,viva e preservada.
Igreja e Santa Casa de Misericrdia
Situa-se o conjunto arquitetnico da Santa Casa da Misericrdia entre as praas Municipal e da S, no Centro Histrico de Salvador. O conjunto comeou a ser desambientado com a demolio da Igreja da S em 1933. A demolio, em 1973, de trs edifcios pblicos imediatamente vizinhos, para a criao de um estacionamento e de uma praa elevada, exps a viso da fachada lateral do conjunto onde antigamente funcionava um hospital.
Edifcio de elevado valor monumental, desenvolvido em torno de um claustro quadrado, a Santa Casa da Misericrdia possui uma igreja com altar-mor de Antnio Rodrigues Mendes (1774), alterado em 1791, dois altares laterais de Flix Pereira Guimares (1790/91), teto em caixotes, com painis atribudos a Antnio Rodrigues Braga (1720) e pinturas de 1777, como a visitao de Nossa Senhora a Santa Isabel, quadro para fundo do retbulo, atualmente na secretaria, e seis painis laterais (1792) da capela-mor. Em 1722 foram introduzidos painis de azulejos representando as procisses de fogarus e dos ossos. Existem ainda azulejos avulsos do mesmo perodo, com figuras de pssaros e flores.
Guarda a Santa Casa uma valiosa galeria de retratos de provedores e benfeitores, que inclui: dez telas de Manuel Lopes Rodrigues, oito de J. A. da Cunha Couto, doze de Oseas, nove de Vieira Campos e ainda telas de Loureno Veloso, Joo Campos Lopes e outros. Contando ainda com mveis e alfaias do sculo 17 e 18, o acervo da instituio um dos mais importantes do Estado.
Os Ascensores Pblicos
A Cidade do Salvador foi e ser sempre, por injuo topogrfica, um lugar de ladeiras e, em decorrncia, dos elevadores e planos inclinados. Predissera este destino Luis Dias, o 'mestre de pedrarias' que veio na comitiva de Thom de Souza em 1549, ao escrever as seguintes palavras que a histria recolheu: '...muitas casas podem fazer nestas ladeiras se isto houver de ir adiante. Na recm-nascida capital brasileira, surgiram as primeiras quatro ladeiras: a da Conceio, a da Preguia, e a da Praa.
Em 1604 j existia o caminho que saa da casa de 'Sua Majestade' para a praia da cidade baixa chamada de 'Nossa Senhora da Conceio', por nela estar situada o templo erguido pelo fundador da cidade, capito Thom de Souza. Em meados do sculo XVIII j existiam dez ladeiras no centro de Salvador, mas, estas (muitas durante algum tempo verdadeiros caminhos escadeados) 'voltavam para uma e outra parte, a fim de facilitar melhor a subida.'
Em 1685 essas ladeiras continuavam ainda to ngremes que cronistas da poca diziam que '...por elas se tornava impossvel o trnsito de veculos.' (carroas) Da pois, a necessidade premente de fazer ascensores 'elevadores' e 'planos inclinados', para facilitar o transporte de mercadorias entre as cidades alta e baixa. E no h dvida que o primeiro ascensor j funcionava no sculo XVII. Como era ento esse tal ascensor? Indiscutivelmente os nossos primeiros planos inclinados eram, segundo um cronista chamado Pirard de Lavel, que por aqui esteve em 1610, 'uma certa mquina destinada ao transporte de cargas', o que d a entender que se tratava de um tipo de guindaste com dois carrinhos sobre trilhos a trafegar simultaneamente e desencontradamente.
Em 1685, outro viajante estrangeiro, Francisco Coreal, se referia ainda ao que chamou de 'espcie de guindaste para o transporte de mercadorias', no que alis foi confirmado por um outro viajante que por aqui ou em 1699, que relatou: 'nem todas as cargas subiam as ladeiras da cidade no dorso dos africanos, dispondo os negociantes de uma boa talha, em que havia polias e cordas, subindo uma ponta destas, medida que outra descia'. Durante trs longos sculos multiplicaram-se em Salvador os 'guindastes'. E de tal sorte que hoje recordamos os 'da Praa', mais ou menos no ponto onde hoje se situa o Elevador Lacerda, o 'dos Jesutas' conhecido como o 'dos Padres', no lugar onde hoje est o Plano Inclinado Gonalves, o 'dos Carmelitas', chamado tambm de Plano Inclinado do Pilar, e o 'dos Beneditos', construdo no sculo XVIII e situado entre as ladeiras da Conceio e da Gameleira.
Somente em 8 de dezembro de 1872, foi entregue populao o mais famoso ascensor da Cidade: o Elevador Lacerda. Denominado inicialmente como Elevador da Conceio, ele tinha somente uma torre de 58 metros de altura. Reformado e acrescido com uma segunda torre em 1932, o Elevador da Conceio foi rebatizado de Elevador Lacerda, em homenagem ao seu idealizador e construtor Antnio Lacerda.